APO PANTOS KAKO DAIMONOS
Thelema
A Filosofia
A palavra Thelema (pronuncia-se Télema) tem origem grega e significa Vontade ou
Intenção. Mas este termo é associado a uma doutrina registrada pela primeira vez na
literatura no século XVI. No ano de 1532, François Rabelais cita em sua aventura épica
Gargantua e Pantagruel, a fundação de uma abadia de Thelema. Segundo o autor, uma
doutrina que se chocava com os ideais católicos da época.
A proposta do Thelema está baseada essencialmente na liberdade e individualidade
humana; ou seja, o cultivo e satisfação plena das próprias vontades. Estas bases ficam
evidentes nos principais conceitos que regem: "Faça o que tu queres, pois há de ser tudo da
lei"; "Todo homem e toda mulher é uma estrela"; "Tu não tens o direito, se não fazer a tua
vontade..." Para os adeptos, estes princípios sintetizam a doutrina.
Em Thelema toda ação individual é válida, pois é necessária a evolução. Porém, é
importante que cada indivíduo descubra-se interiormente pela própria espiritualidade e unase
ao seu Ego através do amor. Desta forma descubra a Vontade Verdadeira que existe em
si, e que é a motivação real da existência. A busca e o exercício da Vontade Verdadeira é a
ação que move o ser em direção a iluminação. Por ser única, esta Vontade não colide com a
Vontade alheia. "O Amor é a Lei sob a Vontade..." Portanto, cada ser da criação é único e
especial; possui vontades e necessidades únicas que devem ser supridas.
Por estar fixado em conceitos pessoais, o Thelema pode variar muito em sua
interpretação entre os adeptos; já que a vontade individual é o principal mecanismo de
busca da auto-satisfação. Por esse motivo não é considerado uma religião, já que não existe
uma divindade central específica; pode abrigar vários tipos de crenças e funcionar como um
complemento da religiosidade, de acordo com a vontade do indivíduo. Porém, em seu
desenvolvimento ao longo dos anos, o Thelema tornou-se um sistema mágico com
características próprias; agregando em si correntes como a Draconiana, Tifoniana e
Ofidioniana. Também influenciou outros sistemas como a Magia Ritual, Magia Sexual e as
Artes Divinatórias.
A doutrina foi citada por vários pensadores e estudiosos em inúmeras publicações no
decorrer dos séculos. Mas se expandiu apenas por volta de 1938, quando o inglês Aleister
Crowley publicou o Liber Al vel Legis.
Atualmente, o Thelema é visto com uma certa hostilidade por aqueles que o conhecem
superficialmente. O nome de Crowley está muito associado a esta doutrina, e os mitos que
cercaram sua vida prestam uma imagem negativa a esta doutrina. Além disso, a noção
libertária dos conceitos thelêmicos pode transmitir um falso aspecto egoísta, onde valorizase
exageradamente a própria vontade e menospreza-se o altruísmo. Na verdade O Amor é a
Lei sob a Vontade, e Todo homem e toda mulher é uma estrela... Aqui fica evidente que o
Amor se sobrepõe aos outros valores, e a individualidade humana é divinizada, respeitada
por que cada um é uma estrela.
Crowley: Breve Biografia
Edward Alexander Crowley nasceu em 12 de Outubro de 1875, em Leamington,
Inglaterra. Recebeu de seus pais uma rígida educação cristã, da qual hostilizava desde a
infância. Freqüentou o Trinity College da Universidade de Cambridge e formou-se em
química.
Crowley conheceu George Cecil Jones, membro do Amanhecer Dourado: uma sociedade
secreta que transmitia ensinamentos relativos à astrologia, magia, cabala, alquimia e outros
temas herméticos. Assim, aos 23 anos foi iniciado nesta sociedade e rapidamente elevou-se
em sua hierarquia. Numa viagem ao Egito em 1904, Crowley e sua esposa vivenciaram as
experiências que resultariam no livro da filosofia thelêmica, o Liber Al vel Legis.
Após a morte de sua filha em 1906, Crowley reuniu-se novamente com Cecil Jones e
criou a Astrum Argentium: uma ordem iniciática que dava continuidade ao já extinto
Amanhecer Dourado. Aqui foram implantados e difundidos os primeiros conceitos do
Thelema. Nos anos seguintes, Crowley dedica-se aos estudos, escreve e publica vários
livros de cunho poético-místico.
Em 1909, Crowley e Rose Kelly se separam. No ano seguinte, o inglês é convidado por
Theodore Reuss e ingressa na Ordo Templi Orientis (O.T.O): uma ordem alemã composta
dos mais elevados Maçons. Assim, teve a oportunidade de desenvolver a filosofia thelêmica
na O.T.O, que posteriormente se desligaria totalmente da Maçonaria.
Em 1910 escreve o Liber CCCXXXIII, que seria publicado em 1913 e maldosamente
classificado como o Livro das Mentiras. Nos anos posteriores, prossegue escrevendo e
publicando várias obras relacionadas ao ocultismo. Em Abril de 1920, Crowley funda a
Abadia de Thelema, na Sicília, Itália. Ordem que seria extinta em três anos, quando
Mussolini o expulsaria do país.
A publicação de Confessions of Aleister Crowley em 1930, proporcionou ao autor a
oportunidade de conhecer pessoalmente o poeta lusitano Fernando Pessoa, que também era
astrólogo. Pessoa enviou uma carta a Crowley avisando-o que seu mapa astral estava
incorreto. O inglês respondeu e manifestou sua vontade de conhecer o poeta. Assim, o
encontro deu-se no porto de Lisboa. Nos anos seguintes, suas publicações mais
significativas foram o Liber Al vel Legis, em 1938, e em 1942 o Líber OZ: manifesto dos
direitos e deveres do homem; muito semelhante ao que ainda seria criado pela ONU.
Crowley passou grande parte de sua vida viajando,
escrevendo e estudando diversas culturas ocultistas, bancado pela herança de sua família e
doações de amigos e discípulos. Demonstrava um ávido desejo de sabedoria. Foi
intelectualmente privilegiado, destacando-se desde a infância, quando lia a bíblia em voz
alta e era prodígio nas disciplinas escolares, até os elevados graus que alcançou nas
sociedades secretas que participou em todo o planeta. Vários de seus discípulos deram
continuidade ao seu legado, criando ordens ao redor do mundo e estabelecendo um novo
rumo dos pensadores contemporâneos, influenciando de forma significativa o universo
ocultista e artístico desta época.
No Brasil, Raul Seixas e Paulo Coelho são frutos diretos do legado de Crowley. Entre
outras, as músicas A Lei e Sociedade Alternativa (de autoria de ambos), não apenas
mencionam, mas dissertam sobre os conceitos do mago inglês.
Edward A. Crowley incorporou vários pseudônimos criados por ele mesmo (incluindo
Aleister, Mega Therion, 666, A Besta...), ou atribuídos pela imprensa, como: O Homem mais
perverso do mundo. Teve uma vida polêmica que se opôs aos conceitos puritanos e
retrógrados de sua sociedade. Morreu pobre e doente aos 72 anos, no dia 1º de dezembro
de 1947 em Hastings, Inglaterra, vítima de bronquite e complicações cardíacas.
Liber Al vel Legis
Em Abril de 1904, Crowley e sua esposa Rose Kelly viajaram para o Egito. Neste período,
Rose passou a entrar em transe repentinamente e declarar que a divindade egípcia Horus
tentava comunicar-se com Crowley através dela.
Assim, o casal visitou o museu do Cairo e identificou a Estela da Libertação: um painel
egípcio da 26º Dinastia onde um sacerdote oferece sacrifício ao deus Horus. Este fato foi
uma revelação mística interpretada por Crowley. Dessa forma, ouvindo os ditos de Rose em
estado meditativo, que falava em nome da divindade Aiwass, deu início ao trabalho que
duraria três dias consecutivos, sempre entre as 12 e 13 horas, e se tornaria o Liber Al vel
Legis (Líber Legis ou Livro da Lei), onde Thelema é citado como a palavra de ordem.
Durante 34 anos, Crowley estudou o significado do Liber Legis, publicando-o apenas em
1938. Este é o seu primeiro livro de princípios místicos. Possui uma linguagem simples mas
interpretativa, onde é necessária muita aplicação para uma compreensão mínima. Além
disso, o livro cita em suas entrelinhas algumas profecias e fatos ocorridos na história da
humanidade.
Segundo o Livro da Lei, os deuses se revezam na condução dos destinos dos planetas
por um período de 2000 anos. Cada um de seus três capítulos faz referência a uma era
(Aeon) da evolução humana. O primeiro capítulo caracteriza o Aeon de Ísis: regido pelo
arquétipo da divindade feminina. Quando o Universo é concebido como alimento direto da
deusa.
O segundo capítulo está relacionado ao Aeon de Osíris, onde predomina o arquétipo do
deus morto e o domínio das religiões patriarcais (talvez uma alusão ao Cristianismo). Neste
período que se inicia aproximadamente em 500 a. C., a humanidade sofrerá as revoluções
necessárias e inerentes à sua evolução: catástrofes, amor, morte e ressurreição.
O terceiro e último capítulo descreve o início do Aeon de Horus, filho de Isis e Osíris.
Neste período que é inaugurado em 1904, cada ser se caracterizará como célula única da
humanidade, e o desenvolvimento individual será essencial para a iluminação do coletivo.
Este é o período do crescimento da criança (humanidade) através de suas próprias
experiências. A Lei é a Vontade, que será revelada integralmente, e o Thelema se
estabelecerá como a bússola da espiritualidade humana.
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